quarta-feira, 16 de maio de 2012

Homenagem à Semana da Enfermagem

"A Enfermeira, no seu dia. Em geral não há grande ruído em torno do Dia da Enfermagem, e compreende-se: esta profissão é feita de silêncio e discrição. Já no século 18, o regimento de um hospital de província, em Portugal, recomendava que a enfermeira fosse "branda, pacífica, alegre e discreta". Quem trabalha assim não desperta atenção pública, e só pode contar com a gratidão daqueles a quem ajudoua salvar a vida, gratidão, aliás, nem sempre manifestada. Entre milhões de pessoas, os enfermeiros diluem-se no mar de doenças e aflições, e quem pode identificá-los? São realmente uma gota d'água. Penso, em particular, na enfermeira, figura símbolo da profissão. Talvez porque o ofício já constitui, de saída, testemunho de abnegação e renúncia à vida prazerosa, pois seu alvo é a dedicação ao sofrimento alheio, o Estado que atraiu as mulheres para uma carreira tão penosa e as diplomou, se mostre tão descuidado em assegurar-lhes uma existência tranquila. Exigir de alguém que faça curso universitário altamente especializado, para atirá-lo depois no meio de toda sorte de doenças, muitas delas contagiosas, e não dar-lhe condições de vida compensado ras desse sacrifício é revelar grande insensibilidade e desconhecimen to dos valores humanos. E se isto é assim com referência às enfermeiras oficiais, que dizer do que se passa com as que trabalham para instituições privadas? Levantamento efetuado por uma organização sanitária federal não deixa mergem a dúvidas: o trabalho da enfermagem, altamente qualificado e reclamando superiores qualidades morais, é um dos mais irrisoriamente remunerados neste país de desníveis. Contudo, as moças continuam atraídas pela tarefa ingrata, que dá aplicação a secretas reservas de amor. Desde 1890, quando se fundou a Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, passando por 1917, ano da fundação da Escola de Cruz Vermelha, e 1923 (Escola Ana Néri), o número de estabelecimentos deste tipo instalados no Brasil ainda não corresponde às necessidades de uma população carente, que tem na falta de hospitais bem aparelhados um grave motivo de inquietação. Mas esta é outra história. Carente também, no sentido de realização profissional e social, no quadro de vida brasileira tão cheia de contradições e injustiças, a nossa enfermeira. Insisto em lembrar que ela merece muito mais do que lhe dão, não só no tocante a salários como a consideração e reconhecimento públicos. Não se trata de profissão qualquer, mas de uma que exige mais do que o comum para seu bom desempenho. Doçura, modéstia, limpeza de alma, desistência de oportunidades brilhantes em outras formas de realização, interesse profundo pelo próximo, sobretudo pelo que há de doloroso e emsmo de repugnante no próximo, são virtudes que se devem esperarda enfermeira, mas não será justo dispensar-lhe também uma atenção especial, e, garantind-lhe a saúde e o bem estar, permitir que ela cuide cada vez melhor do bem estar e da saúde dos outros? Não se trata de converter uma carreira de natural desprendimento em fonte generosa de renda, mas de assegurar às suas ocupantes a média de decoro e tranquilidade sem os quais nãopodemos alçar-nos do nosso egoísmo vegetativo a uma concepção elevada do mundo . E é o que pretende, afinal, nossa amiga a enfermeira: o direito de se consagrar, em paz, à vida de todos." (Carlos Drumond de Andrade) Texto que ouvi durante uma palestra ontem realizada em uma hospital do Rio de Janeiro. Escolhi esse texto para compartilhar no blog, porque faz parte da minha vida. Tem um pouco de mim, porque também sou da equipe de enfermagem. Não poderia deixar de dizer o quanto é importante as palavras de Drumond que sinceramente não conhecia. Por que será que alguém pode escolher servir através da renúncia de outras carreiras brilhantes, ao seu próximo? E com amor! Entre bactérias, vírus,gemidos, sussuros ingratos e talvez péssimas condições de trabalho, está a enfermeira, preparada para a guerra. Desde o início , quando Florence Nightingale, conhecida como dama da lâmpada, decidiu cuidar das vítimas da guerra da Criméia, em mil oitocentos e alguns anos. Percebendo que os médicos só queriam tratar as doenças prescrevendo remédios e fazendo apenas alguns procedimentos indispensáveis à vida, e o cuidar era entregue à boemios e prostitutas por alguma gratificação, Florence adotou os cuidados pessoais de higiene e outras necessidades básicas do servir ao enfermo. Drumond que além de ser um nome na literatura, também era farmacêutico, em algum momento deve ter presenciado as condições de trabalho das enfermeiras de seu tempo. Parabéns aos amigos de profissão que são muitos, alguns confesso que são revoltados com as condiçôes socialmente impostas, como melhores condições de trabalho, carga horária e salários. Outros apenas exercem com todo a ternura tudo o que de bom podem doar ao seu próximo. É uma profissão fraterna, sacerdócio involuntário de todas as nossas vontades. Escolhemos cuidar do outro como uma atitude sublime de querer acabar com as doenças e com o sofrimento de todos, como se isso fosse possível. Aliviar a dor de quem sofre, estar presente para cuidar de casos muitas vezes sem solução, dando dignidade em uma fase terminal da vida. Enfermeiro, você é um instrumento divino, o remédio e o socorro na angústia da enfermidade. Sei muito bem porque também sinto às vezes pena dos que sofrem, porque não somos frios, apenas corajosos o suficiente para conter nossa sensibilidade e prestar a assistência necessária para o mundo. Feliz semana da enfermagem para todos.

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